Estilo

Victor Meirelles, apesar de educado em uma tradição neoclássica tingida pelo Romantismo, desenvolveu um estilo cujas influências formais maiores são mais antigas. Mesmo dando enorme ênfase ao desenho, característica típica do neoclassicismo, o modo como organizava suas grandes composições, com grupos opostos se equilibrando mutuamente formando um movimento em grandes curvas, e o tratamento basicamente pictórico e não gráfico da pintura o aproximam da produção do barroco veneziano e espanhol. Outra influência importante em seu período de formação foi o contato com a produção do grupo dos Nazarenos, especialmente através de seus professores Minardi e Consoni, que desde o início estiveram ligados ao grupo. Este advogava uma postura de pureza expressa em uma vida exemplar e em uma pintura focada em temas nobres, onde a religião tinha um papel central. Meirelles não se tornou célebre por suas obras religiosas, que são poucas e de importância secundária, mas os ideais de pureza, vida ilibada e trabalho árduo e honesto do grupo deixaram suas marcas na personalidade e na obra do pintor brasileiro.
Meirelles não criou uma linguagem nova, mas atualizou uma tradição inaugurada séculos atrás, e seu sucesso como criador de símbolos válidos até hoje é a marca de sua originalidade usando recursos tradicionais. O seu classicismo se observa na harmonia geral das obras, em seu caráter plácido, na sua interpretação da Natureza carregada de poesia, e mesmo quando se tratam das suas batalhas monumentais - Guararapes, Riachuelo - a impressão de movimento e violência, que seriam esperadas para tais temas, fica em segundo plano e o que ressalta é a organização equilibrada do conjunto, anulando em grande medida o efeito de drama. Como bem observou um de seus primeiros críticos, Duque Estrada, falando da Batalha naval do Riachuelo:


O combate naval do Riachuelo, 1882-83. Museu Histórico Nacional


Batalha de Guararapes, 1879. Museu Nacional de Belas Artes
"Como se vê, o assunto não é ingrato; pelo contrário, oferece magníficos pontos de efeito. Mas, a natureza de Victor é tímida, não lhe consente ver o lado trágico da luta. E, por este motivo, o quadro é sereno; a luz da tarde banha cariciosamente, num beijo morno e demorado, esse vasto cenário enevoado pelo fumo; nas mansas águas do rio nadam paraguaios, bóiam dois corpos mortos e um camalote, destroços do combate. De um lado, à direita, enchendo o primeiro plano, vê-se um convés de navio já meio submergido. Sobre ele estão ainda alguns tripulantes, uns atarefados em carregar um canhão, outros assentados impassivelmente; na caixa da roda desse navio figura um marinheiro da nossa armada, ajoelhado, fitando o céu e fazendo um belo gesto com o braço direito; defronte dessa figura tornada estátua, um oficial da marinha inimiga aponta-lhe ao peito, com a calma de um atirador de salão, o cano de uma pistola; mais adiante há um velho que atravessa horizontalmente o navio que se submerge em linha vertical. É isto o combate naval de Riachuelo pintado por Victor Meirelles. (...) A tranqüilidade que caracteriza os combatentes no convés do vapor paraguaio longe está de nos transmitir o angustiado transe por que passam esses vencidos. Tanta calma, tanta serenidade, em tal momento!"
A declaração do próprio pintor sobre a Batalha dos Guararapes é uma clara indicação de seus princípios estéticos e éticos:
"Na representação da batalha dos Guararapes não tive em vista o fato da batalha no aspecto cruento e feroz propriamente dito. Para mim, a batalha não foi isso, foi um encontro feliz, onde os heróis daquela época se viram todos reunidos. (...) A minha preocupação foi tornar saliente, pelo modo que julguei mais próprio e mais digno, o merecimento respectivo de cada um deles, conforme a importância que se lhes reconhece de direito. Sobre estas bases, a minha composição não podia deixar de ser tratada com simplicidade e nobreza, como era peculiar ao próprio assunto. (...) O movimento na arte de compor um quadro não é, nem pode ser tomado ao sentido que lhe querem dar os nossos críticos. O movimento resulta do contraste das figuras entre si e dos grupos entre uns e outros; desse contraste nas atitudes e na variedade das expressões, assim como também nos efeitos bem calculados das massas de sombra e de luz, pela perfeita inteligência da perspectiva, que, graduando os planos nos dá também a devida proporção entre as figuras em seus diferentes afastamentos, nasce a natureza do movimento, sob o aspecto do verossímil, e não com cunho do delírio. Nunca o movimento em um quadro, no seu único e verdadeiro sentido tecnológico, se consegue senão à custa da ordem, dependente da unidade principal, que tudo subordina no acordo filosófico do assunto com os seres que retratam."